É comum, em nossos dias, muitas pessoas não considerarem o Matrimônio como algo importantíssimo. Muitos casam pensando em fazer uma experiência que se não der certo é só separar e tentar de novo até que acerte. Outros ainda acham melhor não perder tempo casando, é só morar juntos e pronto. Há os que decidem primeiro morar juntos e depois de um certo tempo, se as coisas forem bem, aí se casam. Tudo isso não é estranho à sociedade moderna, porém será que isso é o correto diante da Vontade de Deus? Será que nós católicos deveriamos nos “modernizar” e considerarmos isso comum? O que seria o Matrimônio para o católico de acordo com os Mandamentos de Deus e os ensinamentos da Igreja? Pretendemos refletir sucintamente sobre essas questões.
Certamente, muita gente – incluindo católicos – tem uma concepção errada do Matrimônio por não saberem que ele é uma instituição divina e não humana. A ignorância acerca da Doutrina de Cristo e da Igreja leva muitos ao erro. Segundo a Escritura “O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda (assemelhe)” (Gn 2,18). Essa “correspondência” ou “semelhança” está na comum natureza: “Então, o Senhor Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois da costela tirada do homem, o Senhor Deus modelou a mulher e apresentou-a ao homem” (Gn 2, 21-22).
De acordo com o professor Felipe Aquino (2003, p. 9), a Sagrada Escritura “quer nos ensinar que a mulher foi feita da mesma essência e da mesma natureza do homem, isto é, ‘à imagem e semelhança de Deus’ (cf. Gn 1, 26)”. Desse modo compreendemos que o homem não e superior a mulher, assim como a mulher não é superior ao homem.
A Bíblia também nos diz: “Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2,24). Observe que foi o próprio Criador quem instituiu o Matrimônio. Falando de uma maneira mais simples podemos dizer que Deus é o “inventor” do Matrimônio e ao “inventar”, Ele determina que a união matrimonial, deve ocorrer necessariamente entre homem e mulher. Logo, embora a sociedade moderna insista em falar de “matrimônio entre ‘casais’ homossexuais”, tal expressão é desprovida de sentido, pois para que haja verdadeiramente Matrimônio é condição imprescindível a união entre pessoas de sexos diferentes (heterossexuais). Não existe “casal homossexual”! Se ambos têm o mesmo sexo, não é um casal.
Por sua natureza desejada por Deus o Matrimônio deve conter as seguintes características indispensáveis: Unidade (comunhão), indissolubilidade, fidelidade, fecundidade.
Unidade: Após criar o homem (masculino e feminino), Deus institui o matrimônio e determina que sejam uma só carne, isto é que vivam em unidade, em comunhão. Isso significa que não pode haver mentiras entre o casal, não pode haver egoísmo e individualismo. Há esposas que compram um vestido escondido do marido, há maridos que escondem o salário da esposa; há ainda os que casam e separam seus bens: “Ele comprou um computador, então o computador pertence a ele”, “Ela adquiriu uma televisão, então a televisão pertence a ela”. Isso é uma vergonha! Pretender viver o Matrimônio desse modo já revela uma mentalidade separatista, pois indica falta de disposição para a comunhão e para a partilha. De certo modo, já estão separados mesmo que durmam na mesma cama. O Matrimônio bem sucedido é aquele em que os dois crescem em uma comunhão de amor. É bem verdade que é preciso que ambos tenham a concepção adequada de amor, mas disso falaremos mais em frente, quando meditarmos acerca do Matrimônio como o “local” para crescer no amor.
Indissolubilidade: Há pessoas que se dizem modernas, inclusive católicas (talvez mais modernas do que católicas), que acham que a Igreja deveria aprovar o divórcio. Entretanto, sendo a Igreja fiel aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, ela não pode concordar com essa mentalidade, visto que foi Ele mesmo quem definiu a indissolubilidade do Matrimônio, basta conferir Mt 19, 1-9. Precisamos compreender que o modelo de nupcialidade para o casal que pretende receber o sacramento do Matrimônio é o modelo de Cristo e Sua Esposa, a Igreja (cf Ef 5 21-33). Assim como Cristo sacrificou-se pela Igreja, também o marido deve estar disposto a dar a vida por sua esposa; assim como Igreja vive por Cristo, também a esposa deve estar disposta a viver por seu marido. O enlace matrimonial só pode ser desfeito com a morte de um dos cônjuges, é o que a Igreja ensina desde os tempos apostólicos (cf. 1Cor 7,39).
Fidelidade: Desde o AT o matrimônio era considerado símbolo entre Deus e Israel. Roman (2005, p. 9) nos diz que: “Os profetas davam ênfase a este aspecto para que o povo escolhido entendesse o amor a fidelidade, a ternura de Deus para com ele”.
“O abandono da aliança, feita no Sinai, era apresentado pelos profetas como sento adultério ou infidelidade matrimonial”. Até hoje a aliança que os cônjuges usam é símbolo dessa fidelidade. O pe. Bortolini (1981, p.133) afirma que a fidelidade conjugal é prova de fidelidade que os esposos dão ao Senhor e ao amarem-se, na fidelidade, estão amando a Deus.
Fecundidade: Com o Matrimônio tem início uma Igreja doméstica, e enquanto tal deve ser fecunda, deve dar frutos. Ao criar o homem (masculino e feminino), Deus deixou um mandamento: “sedes fecundos” (cf. Gn 1, 28). Um casal que vá ao Matrimônio não querendo ter filhos, não realiza o Matrimônio de forma plena. A vocação matrimonial abrange o chamamento dos esposos em participarem da paternidade e do poder criador de Deus e isso ocorre mediante a geração de filhos. Ao mesmo tempo o casal tem o dever diante de Deus de educar os filhos na fé. A catequese começa em casa. Os pais devem dar um testemunho de fé ao s filhos, devem participar ativamente da vida da Igreja, não podem ser católicos “mornos”. É bom lembrar que o no momento da celebração do Matrimônio o casal promete diante de Deus e de toda a comunidade educar os filhos na fé. Mas como isso é possível se o casal não for verdadeiramente católico e não buscar se formar na doutrina da Igreja? A fecundidade do casal não se limita em gerar filhos apenas em sentido biológico, implica em gerar filhos em sentido espiritual, para a Igreja, para Deus. Se não houver esse empenho, a promessa diante de Deus não será honrada. O casal mentiu, pecou gravemente.
O matrimônio é o “local” em que o casal católico aprende, exercita-se no amor visto que a necessária coexistência exige paciência, acolhimento, diálogo, doação de si, renúncia. Em outras palavras, a vida matrimonial possibilita ao casal desenvolver-se nas duas dimensões do Amor: ÉROS E ÁGAPE. A primeira dimensão é marcada pelo desejo de conquista, de posse. A segunda dimensão se caracteriza pela capacidade de sair de si, de doar-se. Nesse sentido, ensina o Santo Padre Bento XVI em sua encíclica DEUS CARITAS EST (DCE, 7) que eros e agape “nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontram a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral”. Um matrimônio que não busque construir-se nesses dois sentidos do amor está fadado ao fracasso!
Na vivência do amor, o casal, atinge a harmonia conjugal, mediante o empenho que cada um deve ter no sentido de superar-se a si mesmo (egoísmo, mesquinharia, auto-satisfação…). Um casal que batalha para conquistar essa harmonia é um casal maduro no amor e na fé não somente entre si, mas sobretudo para com Cristo Jesus e Sua Esposa, a Igreja. O Matrimônio, como já foi dito é uma missão e um compromisso sagrado, por isso não poder e não deve ser vivido com mediocridade, ao contrário, pode e deve ser vivido na realização da vocação de cada católico que é a santidade. O casal que é chamado ao Matrimônio precisa ter consciência de sua responsabilidade de ser sinal de santidade. Não foi por acaso que Jesus, por mediação de Sua Mãe, realizou o primeiro milagre em uma festa de casamento. A Igreja vê nesse acontecimento a “confirmação de que o casamento é uma realidade boa e o anúncio de que, daí em diante, o casamento será um sinal eficaz da presença de Cristo” (CIC,1613). Portanto, o Matrimônio deve ser entendido nessa dimensão: como sacramento, como sinal sagrado da presença eficaz de Jesus e isso implica em uma sincera busca de uma vida santa. Caso contrario não é Matrimônio, é mediocridade.
Professor Ricardino Lassadier
BIBLIOGRAFIA
- CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 2003.
- AQUINO, Felipe. Família, Santuário da Vida: Vida conjugal e educação dos filhos. Lorena-SP: Cléofas, 2002.
-______________. Sereis Uma Só Carne. Lorena-SP: Cléofas, 2003.
-BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB. São Paulo: Paulinas, Paulus, Ave Maria, Salesiana, Loyola; Aparecida-SP: Santuário; Petrópolis-RJ: Vozes: 2001.
-BENTO XVI. Carta Encíclica Deus Caritas Est. São Paulo: Loyola, Paulus, 2006.
-ROMAN, Ernesto. O Matrimônio, para o povo. São Paulo: Paulinas, 2005.
-BORTOLINI, José. Os Sacramentos em sua vida. São Paulo: Paulus, 1981.









