Não me lembro de um dia da minha vida sem você. Ontem mesmo, de madrugada, estava rindo do seu jeito engraçado de tentar, sem sucesso, surrupiar um dos bolos do restaurante da Dona Florinda. E pareciam tão gostosos, como os churros que ela faz.
E, aí, morre Roberto Gomez Bolanos aos 85 anos. 85? Mas você só tinha 8... Será que a Bruxa do 71 te transformou? E eu nunca chamei você de Roberto. Você é o Chavinho, do barril, que mora ali no 8. Isso, isso, isso. Que estava aqui em casa ainda ontem. Que me levou pra Acapulco e na festa da boa vizinhança. Que almoçava comigo antes de eu ir pra escola. Que sempre passa aqui junto com o Chapolin Colorado. E por que estão dizendo que o Vermelhinho se foi se os super-heróis preferem morrer do que perder a vida?! Por que suas anteninhas de vinil não detectaram a presença do inimigo?!
Tá, tá, tá! Ninguém tem paciência comigo como você. O que seria de mim se você não tivesse me ensinado que pedras não são pedras, são aerolitos; se não tivesse me ensinado que a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena; se não tivesse me ensinado que as pessoas boas devem amar seus inimigos.
Tinha que ser o Chaves mesmo pra me ensinar as pequenas coisas da grandeza. Mas você nunca me disse que ia embora. Então, a vida fora da Vila é assim? Que burra, dá zero pra ela. Era melhor ter ido ver o filme do Pelé. Porque não dá pra conviver com o seu silêncio. Um silêncio de limão, que parece de tamarindo, mas tem gosto de tristeza. Se eu chamar por você e você não responder, vou esperar você falar "outro gato", tá?
Não cale-se, não cale-se, não cale-se. Você me deixa com saudade.
Por Adailton Costa