sábado, 29 de novembro de 2014

Todos nós somos Chaves

“Chaves, ainda que carecendo de quase tudo, é otimista, aproveita a vida, brinca, se emociona e tem o maravilhoso dom que é a vida”

Na noite do dia 27/11/2014 o humor ficou triste com a morte de Roberto Bolaños, o ator mexicano criador dos personagens Chaves e Chapolim, que a 40 anos estreou na televisão mexicana, a 30 está no ar na tv brasileira e em quase todos os países da América Latina
Enquanto a dramaturgia atual gasta milhões em seriados e produções hollywoodianas cada vez mais apelativas, os críticos se perguntam como um programa dos anos 70 ainda pode continuar conquistando pessoas e batendo altos níveis de audiência sem nenhum tipo de palavrão, ofensas a religião ou nádegas expostas para chamar a atenção.

Com a morte de Bolaños, comecei a me perguntar por que vi todo mundo sentindo a sua morte como se fosse um ente da família. Por que gostamos tanto do Chapolim? Por que assistimos os mesmos episódios por 10, 20 anos, e rimos como se fosse a primeira vez? Qual o segredo do Chaves?

Percebi que o Chaves invoca os sentimentos mais puros da nossa infância, da simplicidade de um menino, das travessuras, da necessidade da amizade, de se sentir acolhido pela comunidade e, ainda que se viva na pobreza de um barril, o que todo ser humano quer é se sentir querido e amado pelos outros.


Descobri que todos nós somos um pouco de Chaves, ou melhor, o Chaves revela a essência que somos nós. Ele fala da nossa simplicidade interior mas também denuncia a pobreza e do abandono de milhares de crianças latino americanas. Chaves nos lembra que somos crianças travessas, sempre prontos para acertar alguém com uma pancada e que muitas vezes ninguém tem paciência conosco, e nós, quando abandonamos a criança interior, não temos paciência com os outros. Chaves nos lembra que apesar das nossas “brigas”, a reconciliação é necessária e nada pode substituir a amizade (que nos digam Quico, sr Madruga e Chiquinha)

Chaves nos lembra que não existe vida sem valores. Lembro-me de um episódio que se chama “Chaves, o ladrão da vila”, onde começam a sumir objetos da vizinhança e todos colocam a culpa no Chaves chamando-o de ladrão. O mesmo não se defende, simplesmente pega sua trouxa e sai da vila. Não demora muito para que todos percebam que a vila não é a mesma sem o Chaves. O mais interessante deste episódio é quando Chaves retorna para a vila e, em meio à festa pelo seu retorno, perguntam a ele porque voltara à vila. Chaves diz que foi se confessar com um padre e este lhe disse para voltar de cabeça erguida para a vila, porque o mais importante era a consciência limpa. Chaves ainda responde: “então eu fui rezar pelo ladrão, não para que ele apareça, mas para que se arrependa e se torne bonzinho”.

O episódio pode ser visto no vídeo abaixo.


Certa vez perguntaram a Bolaños a que ele atribuía o sucesso de Chaves, o mesmo respondeu:

“Chaves, ainda que carecendo de quase tudo, é otimista, aproveita a vida, brinca, se emociona e tem o maravilhoso dom que é a vida”

Sim, Chaves nos lembra que a vida pode ser vivida, que apesar dos contratempos e injustiças, ainda podemos ser otimistas, podemos rir, chorar, fazer travessuras, se reconciliar, comer quantos sanduíches de presunto quiser ou caçando churruminos. Quando assistirmos Chaves novamente – sim, porque o Chaves não morreu – teremos aquela ‘mágica’ sensação de estarmos sendo transportados ao nosso mundo infantil e ali reviver a pureza que todo o espírito humano deseja.

No fim de tudo, quando voltarmos à a pureza do menino Chaves, estaremos todos juntos, sorrindo no mesmo lugar, no mesmo horário e no mesmo canal, lá onde “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor” (Ap 21, 3-4)

E o Chaves ainda te dá um recado: NÃO HÁ FELICIDADE SEM JESUS. NÃO HÁ QUEM SEJA COMO JESUS



Por Daniel Machado

Fonte: Destrave